HABILIDADES E CONFIANÇA PARA LIDAR COM OPORTUNIDADES E RISCOS FINANCEIROS (Lição - 1)
Vicente P. Oliveira (*)
O IBeGI-Instituto Brasileiro de Estudos e Gestão da Inadimplência lançou há pouco um livro de temática pioneira – “Otimização na Recuperação de Ativos Financeiros” – organizado por seu Presidente, José Roberto Romeu Roque. Um dos capítulos da obra cuida da Educação Financeira e coube a mim responsabilizar-me por ele. Agora, quero dividir com os leitores do DCI as lições que ali são veiculadas e que podem, juntas, ser consideradas um curso fundamental daquela disciplina.
Incluindo um resumo final, são oito as lições que quero repassar aqui: planejamento financeiro e orçamento doméstico; importância do consumo consciente e responsável; uso do crédito e dívidas, risco do poder de compra antecipado; o cheque especial e o cartão de crédito, os vilões que rondam os cidadãos; juros, armadilha pouco conhecida; faça seu dinheiro trabalhar para você (e não ao contrário) e, finalmente, o papel das autoridades e das organizações da sociedade civil na disseminação da educação financeira.
Esta é um conjunto de conceitos e práticas que as pessoas precisam conhecer e dominar para (bem) gerir as finanças domésticas. São habilidades e competências adquiridas para o trato com o dinheiro na busca do equilíbrio na gestão dos recursos, capazes de dotar cidadãos e famílias das condições para desfrutar da vida com qualidade e sustentabilidade, hoje e no futuro, além de evitar o descontrole financeiro e a inadimplência. Busca dotar as pessoas de capacidade para entender, gerenciar e tomar decisões corretas, condizentes e articuladas com o orçamento de cada uma delas.
Naqueles conceitos encontram-se a renda ou as receitas, os gastos ou as despesas, a poupança, os investimentos ou as aplicações financeiras, o crédito e os riscos que dele advém, a solvência e a insolvência. Presente e futuro, a um só tempo. As práticas, por sua vez, envolvem o planejamento financeiro como estabelecimento de objetivos e metas ao longo do tempo e a elaboração e gerenciamento do orçamento doméstico ou familiar, a necessidade do desenvolvimento e da formação de hábitos conscientes para o uso do dinheiro, consumo, poupança, utilização do crédito, realização de investimentos e gastos futuros e planos de aposentadoria.
O consumo atende às necessidades das pessoas, que, como se sabe, são ilimitadas em número e limitadas na capacidade de atender aos desejos de cada um. Essa demanda por bens, que configura o consumo, pode ser consciente – como deve ser – ou por impulso. Aquele é pensado, refletido, ponderado com relação às possibilidades do agente econômico em termos de recursos e prazos. A iniciativa de adquirir um bem inopinadamente, sem levar em conta as reais necessidades e a disponibilidade de recursos é a porta aberta para o descontrole financeiro. Para o desastre.
O crédito, entendido como antecipação do poder de compra, é um facilitador do consumo, um estimulador de desejos adormecidos. Nas economias capitalistas ele tem sido largamente utilizado e, às vezes, com excessiva criatividade, dando origem às crises mundiais, como em 2008, nos EUA. Associado à concessão (e ao uso) do crédito estão os juros, o risco e a insolvência. Lá, o desastre; aqui, o perigo. Dos juros e da insolvência.
Este é o mundo da Educação Financeira, cuja importância é vital para cidadãos e para as economias nacionais, seja a dos emergentes, como o Brasil, ou a dos desenvolvidos, como os Estados Unidos. Ali, em agosto de 2012, o Presidente do FED, o Banco Central americano, afirmou que “promover a educação financeira pode ajudar a dar suporte tanto a indivíduos quanto à saúde econômica nacional”. Entre nós, há diversas iniciativas visando promovê-la e difundi-la, inclusive um projeto de lei tornando-a disciplina do ensino médio oficial no Estado de São Paulo. A OCDE-Organização para Cooperação e Desenvolvimento Econômico,entidade internacional dos países comprometidos com os princípios da democracia representativa e da economia mercado, tem também preocupações com a Educação Financeira, definindo-a como “o processo pelo qual consumidores e investidores melhoram sua compreensão sobre conceitos e produtos financeiros e, por meio de informação, instrução e orientação objetiva, desenvolvem habilidades e adquirem confiança para se tornarem mais conscientes das oportunidades e dos riscos financeiros”.
(*) – Economista. Membro do Conselho Editorial do IBeGI. Foi Secretário das Finanças do Município de São Paulo e Secretário Adjunto da Secretaria de Assistência e Desenvolvimento Social do Governo do Estado de São Paulo.
Em: Imprensa
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